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A BGS e as crianças!

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Escrito por José “Zemo” Yoshitake

Thais Affini, irmã do Celso Defenestrador, escreveu comentários interessantíssimos sobre a BGS do ano passado do ponto de vista de mãe, mulher e gamer. Já agradeci a ela pelo relato e pedi mais, mas enquanto eles não chegam, creio que seja importante eu dar minha contribuição como pai, inspirado por ela.

Jamais tive vontade de levar meus filhos (um de 5 e outro de 7 anos) a eventos grandes como a BGS, por motivos que talvez transpareçam neste relato, mas que não abordarei diretamente. Uma razão óbvia é que normalmente estou a trabalho e não para curtir com a família, entretanto, continuo sendo pai e tendo um olhar de pai enquanto trabalho nas feiras de games, seja como imprensa ou como expositor.

Neste ano, fiquei a maior parte do tempo atendendo visitantes no estande da WarpZone, local que recebeu bastante crianças ao longo do evento. Além disso, passei boa parte do tempo de “folga” no estande do VGDB, assim como dei uma passeada geral pela feira. No primeiro estande, havia prateleiras com livros praticamente na altura do rodapé, francamente acessíveis para crianças de quaisquer idades, e de fato, o público infantil gostou bastante do estande e interagiu com o que estávamos oferecendo, tanto folheando apenas para namorar as imagens, como lendo – quando já sabiam ler – e dialogando com o staff da WZ.

O estande do VGDB, por sua vez, possuía uma espécie de sala de estar, com uma televisão de 29 polegadas com um Super Nintendo ligado com um flashcart para criança nenhuma botar defeito, além de pessoal altamente credenciado para falar sobre qualquer coisa relacionada a jogos de videogame que a criança quisesse saber. Além disso, tudo o que era exposto a cada dia pertencia a alguém e este alguém estava lá em pessoa para conversar com qualquer um que se interessasse.

A primeira impressão que tenho – e pode parecer bobagem – é que estruturalmente a BGS não tem a menor preocupação com as crianças, sendo um evento completamente voltado a jovens e adultos, embora seja constante a circulação infantil em todos os ambientes da feira. Pela minha experiência, crianças não costumam aguentar muito tempo em filas, possuindo uma urgência natural à movimentação, a expressarem-se com o corpo e com a voz e, finalmente, a apreenderem o mundo. Poucos foram os estandes que vi que crianças – especialmente as menores – poderiam desfrutar confortavelmente um game ou uma leitura, já que ou os estandes tinham espaços preparados para adultos, com cadeiras grandes (quando havia), ou sequer havia espaço para uma criança se deitar ou sentar no chão e simplesmente ser criança. Havia, é claro, os cantos e as paredes da Expo Center Norte, usados por muitos para sentarem, deitarem e descansarem, mas nada que tenha sido pensado ou preparado para crianças ou mesmo para os mais velhos, isso era o que sobrava.

O que estava ao alcance das crianças eram as vitrines recheadas de produtos de consumo, como bonecos, canecas, camisetas, cartas pokémon e revistas, mas videogame que é bom, raramente havia algo acessível. A praça de alimentação, por sua vez, também estava repleta de alimentos saturados de carboidratos, gordura e açúcar, obrigando os pais que quisessem oferecer uma alimentação saudável e, portanto, balanceada para seus filhos a trazerem de casa. Mesmo assim, não haveria onde esquentar a marmita, forçando o visitante a oferecer boia fria aos filhos.

O que mais me chama a atenção em um evento como foi a BGS 2017 é o contraste entre a inegável presença de muitas crianças e o ambiente completamente voltado ao público adulto. A própria concepção de grande parte dos estandes visa atrair homens adultos através do insistente uso do sex appeal, mesmo quando se sabe que hoje já há mais mulheres do que homens jogando videogame. E para as crianças? O que há pensado para elas na BGS? Elas estão sempre lá…

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