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Sem vontade de jogar videogame!

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Videogame

Por vezes, atravessamos perturbações pessoais, profissionais e amorosas que nos levam a refletir sobre a vida, o universo e tudo mais. Em certo momento, suspiramos e dizemos: “Sem vontade de fazer qualquer coisa”. Tire a palavra “fazer” e coloque qualquer outro verbo relacionado ao que você gosta, mas, por ora, vamos falar de videogame.

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Pego emprestada uma referência do livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, que diz o seguinte:

Este planeta tem – ou melhor, tinha – um problema, que era o seguinte: a maior parte das pessoas que viviam nele estava infeliz na maior parte do tempo. Muitas soluções foram sugeridas para esse problema, mas a maioria delas estava amplamente relacionada ao movimento de pequenos pedaços verdes de papel, o que era estranho, porque, no geral, não eram os pequenos pedaços verdes de papel que estavam infelizes.

Por mais que evitemos, o dinheiro é uma parte extremamente importante de nossas vidas, principalmente na atualidade, em que praticamente tudo que precisamos só pode ser adquirido com dinheiro, seja ele físico ou digital. E, nesse sentido, às vezes ficamos frustrados quando não conseguimos comprar aquele jogo, aquele console, aquele acessório.

Após um árduo caminho, muitas vezes acompanhado por longas horas de trabalho, ponderando se o que fazemos diariamente possui algum propósito ou lógica, eventualmente conseguimos adquirir o item desejado. Efetuamos a compra, aguardamos pacientemente sua chegada e, quando chega, usufruímos por um momento, apenas para repetir o ciclo alguns dias depois.

A sensação de vazio após a euforia de uma compra é mais comum do que imaginamos. A Psicologia do Consumidor, tratada por Philip Kotler e Abraham Maslow, discute como o consumo frequentemente busca preencher necessidades emocionais ou psicológicas. Maslow, por exemplo, em sua teoria da Hierarquia das Necessidades, sugere que, após a satisfação das necessidades básicas, buscamos necessidades mais elevadas, como realização pessoal e autoestima, que não são facilmente supridas por bens materiais.

Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, abordou conceitos que podem estar relacionados à sensação de vazio após uma satisfação momentânea, embora não tenha discutido diretamente o fenômeno do consumismo contemporâneo. Ele focou-se mais na ideia do “princípio do prazer”, sugerindo que os seres humanos buscam o prazer e evitam o sofrimento. Introduziu também o conceito de “princípio de constância”, que afirma que o objetivo do organismo é manter uma quantidade constante de excitação psíquica, buscando aliviar tensões internas.

Essa busca incessante pelo prazer pode trazer problemas diversos para quem se deixa envolver. Principalmente porque elementos químicos podem estar envolvidos nesse processo, como a dopamina, um dos principais neurotransmissores associados ao prazer, recompensa e motivação. É liberada quando experimentamos algo gratificante e está envolvida em comportamentos viciantes, como o uso de drogas, jogos de azar, entre outros.

Assim, ao nos tornarmos dependentes dessas sensações a ponto de causar tristeza, o vício pode se instalar, acarretando em prejuízos associados. A dopamina desempenha um papel fundamental nos mecanismos de recompensa e, quando ativada em excesso, pode gerar uma busca descontrolada pelo prazer, criando um ciclo vicioso de consumo.

O vício em substâncias que ativam esses sistemas de recompensa pode resultar em consequências prejudiciais para a saúde mental e física, além de problemas sociais, financeiros e familiares. O uso excessivo pode levar à tolerância (necessidade de doses maiores para sentir o mesmo efeito) e à dependência. Assim como pode acontecer quando se joga videogame em excesso, precisando produzir cada vez mais e mais uma sensação que sentimos menos e menos.

Mas como tudo isso se relaciona com a falta de vontade de jogar mencionada no início do texto? Onde está essa falta de interesse no contexto apresentado? Muitas vezes, devido ao excesso de problemas de um lado e ao excesso de compensações do outro, a mente humana entra em conflito consigo mesma, sem compreender o que realmente deseja fazer.

Há um excesso de informações sensoriais para um cérebro que, apesar de sofisticado, ainda está intimamente conectado às sensações que os antigos humanos, que viveram entre 10.000 e 100.000 anos atrás na África, experimentaram e aprenderam a lidar naquela época.

O excesso de consumo, de informações que nos bombardeiam constantemente, da ideia de que precisamos estar em dez lugares ao mesmo tempo, acaba sobrecarregando a forma como o cérebro orienta-se e processa, chegando a um ponto em que um burnout pode ocorrer repentinamente.

E isso nos leva a uma desmotivação profunda em relação a tudo ao nosso redor. De fato, como um leigo, baseando-me no que sinto, a maneira como as coisas estão indo aponta para uma tendência de falta de vontade e profunda tristeza que tendem a piorar ao longo das décadas para a sociedade humana. Não estamos preparados ou adaptados ao mundo moderno, apesar de termos sido seus criadores.

Acabamos nos tornando vítimas de nossas próprias criações. Perceber que muito do que compramos foi apenas uma distração para algo muito pior que reside em nosso íntimo pode resultar em um preço alto a ser pago.

Quando não sentimos mais prazer nas coisas que antes nos alegravam, esse é o momento mais do que certo para buscar ajuda. Não será a aquisição de dez, vinte ou cem itens que trará paz e satisfação. Nem mesmo o acúmulo de 10.000 jogos, sejam digitais ou físicos, trará de volta a alegria. Menos ainda uma ruma de console de videogame.

É crucial reservar um momento para si, desbravar seu interior e perceber que tudo aquilo que consumiu pode não ser a melhor maneira de alcançar a plenitude da alma e da mente. Muitas vezes, essa compulsão pelo consumo é enraizada na infância, enquanto em outros casos é adquirida ao longo do tempo, especialmente em momentos difíceis. Em todos os casos, a ajuda de um profissional é fundamental.

Quem sabe ele não cure esse “ismo” doentio? Sei lá, saí desse Nintendismo, Seguismo, Sonysmo e Caixismo, que não tem nada haver com o assunto, mas deu vontade de colocar! Está na hora de você voltar a jogar videogame, independente de marca.

Outras vezes, a questão do consumismo excessivo, vazio de tudo e a falta de vontade de fazer alguma coisa, e no nosso caso, jogar videogame, se faz necessário parar e repensar na vida e para onde ela está se encaminhando. Provavelmente você tomou um caminho errado e, só agora, está percebendo o provável erro. 

Mas nunca é tarde para retomar o rumo. A vida é uma só, sem continue, mas ela é longa o bastante para errarmos e acertamos o curso ao longo da jornada. E, quem sabe, voltar a jogar videogame da maneira que queríamos jogar!

Fonte: Wikipedia, Wikipedia, A Mente é Maravilhosa, UFPB, UERJ, Gabriel Viana, Zenklub, allingames, the cold wire

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