
Hoje em dia, o número de jogos lançados diariamente nas plataformas digitais é simplesmente absurdo. Steam, GOG, Epic Games Store, consoles… é tanto conteúdo disponível que parece até piada de mau gosto. Vivemos com a sensação de estarmos num rodízio de pizza, mas com o estômago cheio — temos tudo à disposição, mas não sabemos por onde começar.
E, veja bem, isso não é só com você. Esse fenômeno já é tão comum que até ganhou um nome entre os amigos: o Efeito Netflix dos Jogos. Você liga o console ou o PC, passa meia hora navegando pelas capas bonitas e trailers empolgantes e, no fim das contas, ou joga o mesmo de sempre ou simplesmente fecha tudo e vai lavar a louça. Triste, mas verdadeiro.
Se pararmos para pensar, a gente se empolga só com a ideia de jogar, mas não com o ato em si. É um paradoxo moderno: mais opções do que nunca, menos ação do que antes. O tempo livre existe, mas escorre por entre os dedos, soterrado por indecisão e boletos vencendo.
O tempo dos fliperamas e locadoras
Nos tempos das locadoras e dos fliperamas — alô, anos 80, 90 e início dos 2000 — jogar era um evento. Você não tinha 300 jogos na prateleira digital: tinha dois cartuchos em casa, e talvez um terceiro escondido na mochila, emprestado daquele primo. Se quisesse novidade, era hora de alugar. E cada minuto pago era usado como se fosse o último.
A diversão era direta e sem enrolação. Colocou o jogo? Jogou. Morreu? Tentou de novo. Não existia tempo para ficar escolhendo. Aliás, escolher jogo era coisa para quem já tinha alugado e estava esperando o próximo sábado. A experiência era focada, intensa e cheia de pequenas vitórias.
E o mais interessante: a limitação de acesso fazia a gente valorizar cada segundo. Você zerava Sonic, Golden Axe ou Top Gear não porque eram os únicos jogos bons, mas porque eram os únicos disponíveis. E isso bastava. Menos era mais. E o mais era muito mais aproveitado.
Adulto gamer: tempo, boletos e escolhas
Agora, como adultos, nossa realidade mudou bastante. Entre acordar cedo, trabalhar, pagar contas, fazer compras, cuidar da casa e, se tiver sorte, dormir oito horas, sobra o quê? Uma horinha e meia no fim do dia. Se isso. E ainda assim, a gente tenta jogar — mas nem sempre consegue.
A vida adulta é um eterno malabarismo. O tempo virou moeda de luxo, e os boletos, chefões recorrentes que nunca dão “game over”. Planejar aquele tempinho para jogar virou mais difícil do que zerar um Dark Souls na primeira tentativa. E o mais curioso? Quando finalmente temos esse tempo, ele é devorado pela indecisão ou pelo cansaço.
A culpa, no fim das contas, não é só da rotina. É também da pressão invisível de “aproveitar o tempo” da melhor forma possível. Então, quando abrimos a biblioteca, tudo parece uma obrigação. Como se cada jogo precisasse justificar o investimento. Resultado? Voltamos para o velho e confiável Stardew Valley ou FIFA, e deixamos aquele RPG de 120 horas para “quando der tempo”. Spoiler: nunca dá.
O paradoxo do gamer moderno
Esse fenômeno também afeta quem vive o retrogaming com paixão. Muitos acabam caindo na mesmice, revisitando os mesmos jogos de infância e se recusando a experimentar títulos novos ou diferentes. Isso não é um crime, claro — nostalgia também é combustível —, mas ignorar tudo que veio depois do PlayStation 2 pode ser um baita desperdício.
Os jogos evoluíram, os gêneros se reinventaram e novas histórias incríveis surgiram nas últimas duas gerações. Ainda assim, muita gente prefere repetir velhos hábitos, talvez por medo da frustração ou apenas por conforto. A verdade é que, mesmo quando temos tempo, preferimos não arriscar.
Mas o ponto é: você pode aproveitar melhor seus momentos livres com um pouco de planejamento e menos pressão. Às vezes, escolher um jogo pela capa e dar uma chance já é um passo enorme. Jogar meia hora de algo novo pode trazer mais diversão do que enrolar uma noite inteira tentando decidir.
Como jogar melhor, mesmo com pouco tempo
A pergunta que não quer calar é: como aproveitar melhor o pouco tempo que temos? A resposta, infelizmente, não é mágica. Mas algumas estratégias ajudam. Por exemplo: criar uma pequena lista de jogos que você realmente quer jogar nos próximos meses. Nada muito ambicioso. Três ou quatro já bastam.
Outra dica é reservar um horário fixo na semana, como se fosse um compromisso. Pode parecer bobo, mas funciona. Assim como ir à academia ou lavar roupa, jogar também precisa entrar na sua rotina. Com isso, aos poucos, você vai retomando o prazer de jogar e se envolvendo de novo com experiências novas.
E, se ainda assim bater aquela preguiça, tente usar esse tempo para jogar algo curto ou diferente, como um indie de 3 horas. O segredo está em valorizar o momento, mesmo que breve. Porque, no fim das contas, jogar é para ser divertido, não mais uma cobrança na agenda.