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Scarred: Quando o Horror Psicológico se Perde na Escuridão

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Scarred

Scarred é um jogo de terror psicológico em primeira pessoa, desenvolvido por Choo Bin Yong, o nome por trás da KOEX Studio, localizado em Singapura. Embora o cenário seja promissor e inspirado em ambientes reais do país, o jogo falha ao tentar transformar uma narrativa pessoal em uma experiência cativante. Apesar de boas intenções, a execução se perde em clichês, puzzles confusos e uma estrutura narrativa cansativa.

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O título tenta abordar temas emocionais profundos, como luto e culpa, dentro de um cenário que mistura o real com o sobrenatural. No entanto, a entrega final decepciona até mesmo os fãs mais devotos do gênero. A seguir, analisamos os principais aspectos que fazem de Scarred um título que não consegue cumprir o que promete.

Enredo Previsível e Narrativa Arrastada

A história começa em uma escola em Singapura, onde Calvin, um estudante, investiga o desaparecimento de Olivia, sua colega de classe. No entanto, logo o jogo apresenta outro protagonista, Alan, que tinha uma relação próxima com Olivia. Essa mudança repentina tenta surpreender, mas logo se torna evidente que a trama segue por caminhos extremamente previsíveis.

Apesar de alguns elementos da narrativa causarem certo impacto, a maioria das revelações soa forçada e desnecessariamente repetitiva. A história insiste em reforçar o mesmo ponto diversas vezes, prolongando artificialmente a experiência por mais de seis horas. Infelizmente, o enredo inclui um clichê recorrente: o protagonista acredita ser culpado por eventos passados, mas ao final, descobre que tudo não passou de um mal-entendido. Essa abordagem dilui o impacto emocional e não constrói um personagem verdadeiramente complexo.

Além disso, o jogo tenta entregar profundidade psicológica, mas falha ao não permitir que o jogador explore diferentes interpretações ou caminhos. A linearidade da narrativa, somada a diálogos mal escritos e cenas mal dirigidas, torna a experiência frustrante. A tentativa de criar uma atmosfera introspectiva resulta em uma jornada monótona e sem envolvimento.

Jogabilidade Desconexa e Mecânicas Irritantes

Inicialmente, Scarred parece se posicionar como um walking simulator com elementos de resolução de puzzles. Entretanto, o jogo desvia dessa proposta ao inserir mecânicas aleatórias e mal executadas. Em vez de focar em uma experiência coesa, o título tenta incorporar diferentes gêneros sem sucesso.

Durante a jornada, o jogador precisa usar bolas de basquete para interagir com objetos e combater “inimigos”, além de enfrentar seções de plataforma mal planejadas. Essas mecânicas quebram o ritmo do jogo e causam frustração. Sequências de perseguição também aparecem, mas não adicionam tensão real, apenas reforçam a sensação de que o jogo tenta copiar tendências de estúdios maiores como a Bloober Team.

Adicionalmente, os puzzles são desprovidos de lógica clara e parecem existir apenas como tentativas falhas de simbolismo. A ausência de um sistema de objetivos contribui para a confusão, pois o jogador precisa adivinhar o próximo passo. A escuridão extrema, sem opções de brilho ou lanterna, agrava o problema, tornando a navegação uma tarefa cansativa.

Visual Pobre e Direção de Arte Genérica

A estética visual de Scarred é outro ponto fraco. A maioria dos ambientes são corredores abandonados, com aparência genérica que remete a diversos outros jogos indie feitos na Unreal Engine. A falta de variedade visual e o uso excessivo de tons acinzentados tornam o jogo visualmente cansativo.

As cutscenes, além de mal animadas, são usadas em excesso. Muitas vezes, elas mostram apenas o personagem andando sem propósito, ou uma aparição do espírito de Olivia realizando ações aleatórias. Esse tipo de direção não contribui para o desenvolvimento da história e apenas reforça a baixa qualidade do produto final.

Embora a intenção fosse transformar cenários familiares de Singapura em espaços perturbadores, a execução falha ao não criar um contraste eficaz entre o comum e o aterrorizante. Apenas um momento se destaca: o nível do projetor, onde puzzles se integram de forma criativa ao ambiente, oferecendo um breve respiro de qualidade em meio ao caos visual do restante do jogo.

Áudio Mal Produzido e Dublagem Fraca

A trilha sonora e os efeitos sonoros são inconsistentes e mal editados. Em muitos momentos, as cenas não possuem qualquer música de fundo, o que gera desconforto e quebra a imersão. Quando há música, ela frequentemente não se encaixa na cena. Alguns trechos utilizam ruídos eletrônicos estranhos que não contribuem em nada para a ambientação de terror.

Os efeitos sonoros, em sua maioria, têm baixa qualidade. Os níveis de áudio variam de forma descontrolada e certos sons se repetem de maneira exaustiva. Um zumbido constante em segundo plano, presente em quase todas as fases, rapidamente se torna irritante, especialmente durante os puzzles.

A dublagem também compromete a experiência. Embora a escolha de usar talentos locais tenha buscado autenticidade, a entrega dos diálogos é robótica e as frases muitas vezes soam estranhas. Pior ainda, não há opção de áudio no idioma original, o que teria sido muito mais imersivo e respeitoso com a proposta do jogo.

Uma Premissa Interessante Mal Aproveitada

Scarred é ambientado em uma versão distorcida de Singapura, tentando usar locais reais como corredores de HDBs, salas de aula e praças cobertas para criar horror psicológico. Essa ideia tem potencial, pois subverter o familiar é uma técnica poderosa no terror. Contudo, o jogo não consegue transformar essa premissa em algo envolvente.

Apesar de ser inspirado por histórias reais, o enredo não apresenta profundidade. A proposta de lidar com memórias fragmentadas e linhas do tempo entrelaçadas poderia ter sido intrigante. No entanto, a execução carece de ritmo, emoção e impacto. A presença de fantasmas e criaturas sobrenaturais não compensa a falta de criatividade nos desafios e na construção do suspense.

O estúdio KOEX já havia explorado o gênero em jogos como Noosphere e Seduction, mas Scarred demonstra uma regressão em qualidade. Mesmo sendo um projeto solo, o jogo mostra que ambição sem foco pode comprometer uma boa ideia. O resultado é um título que não emociona, não assusta e dificilmente será lembrado entre os melhores do terror indie.

Conclusão: Scarred Não Faz Justiça ao Terror Psicológico

Scarred tenta oferecer uma experiência emocional e assustadora, mas falha em quase todos os aspectos. A narrativa é previsível, a jogabilidade é frustrante e os elementos técnicos são mal executados. Embora tenha um ou outro momento interessante, especialmente no design de puzzles do nível do projetor, isso não é suficiente para salvar o jogo do tédio e da decepção.

A proposta de explorar o horror através de cenários inspirados em Singapura é original, mas desperdiçada por escolhas criativas equivocadas. Scarred é um exemplo claro de como boas intenções não garantem um bom jogo. Mesmo os fãs mais dedicados ao gênero encontrarão dificuldade em recomendar essa experiência.

A Comunidade Mega Drive recebeu uma chave para o review do jogo.

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