
Vinte e seis anos após o último lançamento da franquia Fatal Fury, a lenda do lobo solitário está de volta! Fatal Fury: City of the Wolves presenteia os fãs da franquia com uma continuação esperada há tanto tempo que muitos já tinham perdido a esperança no meio do caminho, ainda mais com a atual conjuntura dos games de luta, já não tão presentes na biblioteca dos consoles e computadores modernos.
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Relembrando um pouco o que é Fatal Fury!
Como Garou: Mark of the Wolves (o último Fatal Fury lançado em 1999) representava uma nova leitura da clássica franquia da SNK, tentando equipará-la em mecânicas a Street Fighter III, me referirei ao novo game como “Garou”, pois acho que fica mais fácil tanto na escrita quanto na leitura do game, uma vez que a proposta é totalmente distinta em termos de gameplay, se compararmos aos games do início da franquia.
Em Fatal Fury 1, Fatal Fury 2, Fatal Fury Special, Fatal Fury 3, Real Bout, Real Bout Special e Real Bout 2, temos um game de luta focado na mecânica de dois planos (até três, em alguns casos), o que fazia um game único, inspirando até seu grande filho, The King of Fighters.
Veja o especial da Comunidade Mega Drive jogando todos os títulos de Fatal Fury!
No lançamento de Mark of the Wolves, temos duas grandes mudanças: uma com respeito à gameplay e outra com respeito ao enredo. Se passaram muitos anos desde a morte de Geese Howard, e Terry se responsabiliza por cuidar de Rock Howard, filho de seu principal inimigo.
Com isso, temos uma mudança brutal no roster do jogo, ao melhor estilo Art of Fighting 3, porém de forma muito mais bem-sucedida, já que os personagens possuem muito carisma, com uma direção de arte das melhores já vistas na história dos games de luta.

Tudo isso aliado a uma gameplay sólida (sim, eu sei, muito inspirada por Street Fighter III), mostrando que o NeoGeo, com seu Motorola 68000, era realmente a Ferrari dos videogames. Nove anos de hardware, e ainda entregando experiências que nocautearam seus adversários com hardwares muito mais recentes. Relatando um pouco das inspirações — afinal, mais de duas décadas separam a continuação de seu predecessor —, é hora de falar do lançamento.
VISUAIS
Como se percebe logo de início, a SNK e seu formado KoF Studio se aproveitaram muito da estética de The King of Fighters XV para a construção de Garou. A estética dos personagens lembra um pouco o último lançamento de KoF, mas conta com um aperfeiçoamento de traços que o deixa mais cartunizado, tentando aproximá-lo de um jogo de luta 2D noventista.
Em minha opinião pessoal, a empresa deveria ousar e voltar à pixel art, mas isso é o pensamento de um saudosista que viveu a melhor era dos jogos de videogame, então vocês podem desconsiderar na análise final e levar como um desabafo.
Não é um game tão vistoso quanto Street Fighter 6, mas dá conta do recado e deve atender ao gosto dos fãs tranquilamente. Seus visuais mais simples o fazem performar bem até no PlayStation 4, o que considero um acerto da empresa, pois há uma base de fãs que ainda não migrou de geração (assim como fez a Capcom com SF6). Está presente o online multiplataforma com aquele rollback maroto que deixa a gente feliz e satisfeito para umas partidas via internet, e isso deve aumentar bastante a vida útil do jogo.
Trilha & Efeitos Sonoros
A trilha sonora contém mixagens de temas antigos com uma boa levada, e você pode usar trilhas sonoras de games antigos da franquia para personalizar menus, deixando tudo bastante único para cada jogador. Uma das primeiras coisas que fiz foi procurar temas de KoF, Real Bout e Art of Fighting para colocar no menu inicial, menu de personagens, menu online. Só senti falta das trilhas sonoras arranjadas, muito presentes no NeoGeo CD, mas creio que alguma coisa relacionada à propriedade intelectual tenha impedido que esses itens estivessem disponíveis.
Os efeitos sonoros são muito satisfatórios, mas creio que esse é um quesito em que não há tanta questão de melhora nos jogos atuais. Sons de soco e chutes estranhos eram conversa para a geração 8/16 bits, quando a moda era falar mal do som do Mega Drive (por aqui é terminantemente proibido falar mal do Megão); não vejo necessidade de dissecar isso na atual conjuntura tecnológica. O que precisam saber é que tudo orna de maneira agradável!
HISTÓRIA
City of the Wolves é continuação direta de Mark of the Wolves e, para quem se lembra, a principal questão envolvia o protagonista Rock Howard e sua mãe. Seu tio, o chefe final Kain R. Heinlein, diz a ele que ela está viva, sabe onde ela está, instigando Rock a continuar sua busca.
O que me deixou com a pulga atrás da orelha é que, sem spoilers, a SNK deixou os personagens vilanescos “bonzinhos”. Não é incomum você ver Grant, Kain, Billy Kane e outros personagens conversando pacificamente com Terry, Rock e cia. como se fossem amigos! Traçando estratégias, parcerias, como se todo o passado tivesse sido apagado.
Não me entendam mal, a história continua rica, cada personagem tem seu story mode próprio, motivação, chefe final, lore destrinchada de maneira muito satisfatória para um game de luta, o que sempre foi marca da SNK, fazendo-a ser tão querida pelos fãs. No entanto, eu não sei se todo esse aprofundamento se deu de forma correta. Eu terminei o jogo com apenas 60% do roster, mas, do que vi, confesso não ter gostado, pois pareceu uma espécie de revisionismo de muitos personagens.
Elenco nessa primeira temporada
O elenco conta com os já conhecidos Rock Howard, Terry Bogard (inclusive com as duas roupas, clássica e “madura”), Marco Rodrigues (OBRIGADO POR ESCREVER DIREITO, SNK!), Hotaru Futaba, Gato, Tizoc “The Griffon” (chupa, Rei dos Dinossauros!), Kim Dong-Hwan (“quede” Jae-Hoon?), B. Jenet, Kevin Rian, Kain R. Heinlein.

Voltam personagens icônicos como Mai Shiranui, Billy Kane, e chegam os novatos Vox (discípulo de Grant) e Preecha (aluna de Joe Higashi), além dos polêmicos Cristiano Ronaldo (vulgo CR7) e o DJ Salvatore Ganacci (bósnio com nome fantasia italiano). Sobre as polêmicas, teremos um parágrafo mais ao final.
Como é de praxe em jogos de luta modernos, City of the Wolves terá o sistema de temporadas, com personagens adicionais para compra. Já na primeira temporada, teremos Chun-Li e Ken, de Street Fighter, além dos já conhecidos Joe Higashi, Andy Bogard e Mr. Big, capanga de Geese em Art of Fighting.
Jogabilidade
Aí está a “delicinha” do game. Diferentemente de KoF XV, onde tudo parece as KoF clássicas porém pioradas, City of the Wolves tem uma gameplay sólida, trazendo novos elementos ao que já tínhamos no game original. Just Defend, o parry de Garou, está de volta. T.O.P., aquele pedaço da barra onde você consegue aplicar um golpe adicional, também se faz presente (S.D.G. na versão em português), inclusive com um especial secreto.
O jogo tem duas barras, além da barra de energia. Existe a barra de especial, com até dois níveis, como antigamente. O primeiro nível se ativa com os botões fracos, enquanto o segundo nível com os botões fortes, a depender do especial do personagem. A outra barra é a barra de drive, que pode encher até 100%, causando overheat, impedindo sua utilização enquanto se esvazia. Com essa barra podemos utilizar as REV arts, a grande novidade no estilo de jogo.
O que são as REV arts?
Com as REV arts, você pode utilizar uma defesa especial que muito lembra a série Versus. Quem não se recorda de defender a broca do Apocalypse em X-Men/Marvel vs. Street Fighter e o seu personagem mandar um “chega pra lá”, afastando o golpe do inimigo, evitando a perda de energia por defesa? A REV guard é exatamente isso: afasta o inimigo e ainda evita o chip damage, que é aquela perda leve de energia ao defender magias e especiais. REV blow é o golpe com os dois botões fortes com a barra de energia no S.D.G., e você ainda pode usar magias e golpes de comando especiais com dois socos ou dois chutes, fazendo uma versão mais poderosa, que pode ser combinada para combos enormes.
Ainda continuamos com o cancelamento de golpes especiais com os botões fracos para aumentarmos a janela de combos, permitindo que os jogadores mais dedicados consigam simplesmente drenar a barra de vida de seus rivais.
Há quem possa dizer que isso é pura cópia de Street Fighter 6, mas, quem joga arcades desde o início, sabe que a SNK já nos trazia isso de maneira muito mais eficiente em The King of Fighters, The Last Blade e até no primeiro Garou. Porém, não posso fingir que não houve inspiração na parte visual: quando você aplica REV arts, até as cores dos vultos dos personagens lembram, e muito, SF6.
Modos de Jogo
O game possui os modos arcade, versus (offline e online), treino e um modo ao melhor estilo World Tour de Street Fighter Zero 3 chamado Episódios de South Town (EdST). Dada a proximidade entre os lançamentos, também não posso ignorar que ele se parece, e muito, com o modo história de SF6.
Seu personagem luta contra outros adversários em um mapa, há sistemas de nível, e você pode equipar as habilidades que adquire. O ponto fraco é que, enquanto você não enfrenta os personagens principais, os outros inimigos são personagens bem genéricos, sem carisma, e o modo não me cativou, tanto que ainda não cheguei a terminar — fiquei mais nos modos arcade e versus, que me são muito mais interessantes.

Não comentarei sobre os controles de acessibilidade, mas não por achar que eles não são importantes. É simplesmente um estilo de jogo que não faz sentido para mim, justamente por não precisar de tais ferramentas. Sei que há muitas reclamações sobre jogadores que se aproveitam dos comandos facilitados para adquirirem vantagem sobre os oponentes no versus online, gerando ojeriza e talvez até preconceito na comunidade. Prometo tentar entender mais o estilo de comandos e fazer uma revisão futura.
JOGADOR DE FUTEBOL E DJ? É ISSO MESMO?
A polêmica das polêmicas em City of the Wolves, sem sombra de dúvida, é a inclusão do jogador de futebol Cristiano Ronaldo e do DJ Salvatore Ganacci. O que se passava pela cabeça dos desenvolvedores ao fazer isso?
Para entendermos (talvez não de forma plausível) a conjuntura, precisamos lembrar de quem está ditando as regras no negócio dos games. A SNK é gerida pela MiSK Foundation, cujo presidente é o príncipe saudita Mohammad Bin Salman, cujo principal clube é o Al Nassr, que contratou o jogador português nos últimos anos.
Dada essa tendência de jogos multiplayer com seus “multiversos da loucura”, como Fortnite, que deve ter até minha avó no roster, não é de se surpreender a inclusão de personagens que não possuam relação com a franquia.

Joguei com ambos e, apesar de não curtir o estilo de Ganacci, achei sua construção interessante. Não são dois personagens genéricos largados no game; suas gameplays são sólidas, e confesso que gostei demais de jogar com Cristiano Ronaldo, que lembra um pouco o personagem Adon, por executar a maior parte dos golpes com os pés. Porém, o que entristece os fãs é a substituição de um personagem-chave do game, como Andy, Joe, Kim (pai e filho).
Minha crítica surge no fato de que o roster é bem reduzido — compreensível para a franquia —, mas impensável nos moldes dos fighting games modernos que, apesar de possuírem muitos DLCs de temporadas, quase sempre chegam com elencos recheados. Quer colocar a avó, o ídolo, o presidente no jogo? Coloque, mas não se esqueça dos personagens que compõem a base do game, estando aí seu principal defeito.
VEREDITO
Garou: City of the Wolves é o melhor título da SNK em anos e, apesar de polêmicas e aparentes contradições, tem tudo para se consolidar no cenário de games de luta. A empresa está investindo pesado na divulgação do game, seja com a inserção de personagens externos, seja com premiações polpudas em campeonatos, tentando trazer seus tempos de glória de volta à tona.
Independentemente disso, é um game muito sólido, belo, divertido, tendo muito a oferecer tanto a novos jogadores quanto a jogadores experientes. Torçamos para que a cena dos jogos de luta volte aos seus tempos dourados!
Aproveitem e vejam a live-review de Fatal Fury: City of the Wolves do canal Here Comes a New Challenger.
Fica expressa a gratidão à SNK pelo fornecimento da chave para review do game.
Texto por Rafael Barbosa
Conheça o canal Here Comes a New Challenger