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DOOM: The Dark Ages é o Quake II que nunca tivemos!

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doom: the dark ages

DOOM: The Dark Ages tinha tudo para ser o terceiro capítulo épico da reinvenção da franquia iniciada em 2016. Só que, ao tentar ser algo diferente, o jogo acaba se distanciando do que fazia DOOM ser tão viciante.

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Não é um desastre completo. Ele ainda é brutal, sangrento e tem momentos empolgantes. Mas também é cheio de decisões questionáveis que acabam deixando a experiência mais arrastada e menos memorável.

Saiu 2016

Quando DOOM 2016 saiu, fazia um bom tempo que eu não jogava um FPS que dava vontade de destruir, trucidar e estraçalhar tudo que havia na minha frente, talvez, com exceção, de Bioshock Infinite. DOOM Eternal deu ferramentas para criar ainda mais caos em cima das hordas infernais e foi aquela loucura toda. Mas, então, chegou o DOOM: THE DARK AGES e tudo o que eu tenho a dizer, meh.

Antes de mais nada, joguei o título no modo Ultraviolência, como sempre fiz com todos os DOOMs que já joguei. Mesmo nesse nível, o jogo foi extremamente fácil, mas não é disso que vou falar agora. DOOM: The Dark Ages era um jogo que eu estava aguardando porque vi uma lista da Bethesda com diversos títulos que seriam lançados a partir de 2023, e lá estava DOOM: YEAR ONE.

Naquele momento, pensei que veríamos a chegada do DOOMguy no mundo dos Sentinelas da Noite, como ele adquiriu todos os seus poderes e, finalmente, uma explicação da ligação entre os DOOM clássicos e o que vimos em DOOM 2016.

Este texto terá alguns SPOILERS, então siga por sua conta e risco. Caso você não queira saber de mais nada, estou dando a chance real de parar aqui mesmo. PARE NESTE PONTO, NÃO LEIA MAIS ABAIXO, POIS NÃO ME IMPORTO EM FALAR SOBRE A HISTÓRIA DO JOGO, QUE ME DEIXOU DECEPCIONADO.

Avisado está! Vamos ao review.

Questões Técnicas

Antes de falar do jogo em si, gostaria de comentar sobre os requisitos que ele pede da sua máquina. Sinceramente, achei uma sacanagem exigir que a GPU tenha aceleração de Raytracing, pois, mesmo jogando com gráficos no médio, não vi necessidade disso.

Os efeitos de luz e sombra da idtech 7 já são bons o bastante — os gráficos de DOOM Eternal são lindos, e DOOM 2016, com a idtech 6, não fica atrás! Ou seja, donos de PC foram obrigados a buscar uma GPU AMD ou Nvidia com Raytracing, mesmo que isso não traga relevância para a jogabilidade em DOOM: The Dark Ages.

doom: the dark ages
Essa daqui não era para estar aqui!

Outro ponto negativo são os demais requisitos, especialmente a exigência de processadores com, no mínimo, 8 núcleos! Processadores de entrada foram literalmente deixados de lado, assim como os medianos (Core i5 / Ryzen 5). E o que isso significa para mim? UMA PÉSSIMA OTIMIZAÇÃO por parte da id Software, muito diferente do que vimos em DOOM 2016 e DOOM Eternal nesse quesito.

Nem vou falar da quantidade de memória RAM exigida, que me faz questionar se isso é realmente necessário, ou se a otimização deixou de ser pauta nas equipes de produção. Todo mundo parece confiar cegamente em FSR, DLSS, XeSS. Está cada vez mais difícil elogiar a produção de jogos hoje em dia.

Joguei o título com um Ryzen 5 3400G e, na maior parte do tempo, a jogatina ficou acima dos 60 fps. Apenas em fases mais abertas o FPS caiu para 34. Minha GPU é uma RTX 3060.

Você é um tanque, mas seus tiros não têm peso

Uma das coisas que sempre gostei em DOOM é que as armas tinham um charme próprio na violência e na sensação que os inimigos tinham ao serem atingidos. Armas como pistola, metralhadora giratória e a arma de plasma não passavam uma sensação tão forte de destruição e peso. Já a escopeta (e a espingarda de cano duplo de DOOM 2), o lança-foguetes e a BFG 9000 transmitiam todo o impacto que faltava nas armas mais leves.

Em DOOM: The Dark Ages, o peso e a fúria não ficam mais nas armas (talvez com exceção da espingarda de cano duplo, pois a BFG não está presente), mas sim na esquiva e no escudo. Quase todas as batalhas dependem da forma como você sincroniza o uso do escudo para absorver o projétil verde ou o ataque corpo a corpo verde dos inimigos, desestabilizando quem ataca — e isso é a coisa menos DOOM que você pode fazer.

doom: the dark ages

Em todos os DOOM, você é uma máquina de guerra movida pela vontade de destruir todos os demônios à sua frente. Ter uma forma de defesa, apesar de tornar o jogo um pouco mais estratégico, deixou este título muito mais fácil.

Para a grande maioria dos “chefes” do jogo, se precisei morrer mais de cinco vezes para entender o padrão de ataque, foi muito. Na verdade, o jogo facilita bastante o combate mano a mano com chefes e inimigos maiores.

Esquema básico

O esquema é: movimento verde, escudo, bloqueia, movimento verde, escudo, bloqueia, deixa o inimigo tonto, use o murro, a maçã ou a clava para recuperar munição, escudo e energia, dê alguns tiros de escopeta e repita o processo.

Sendo um tanque, você ainda conta com outro ataque: ao pular de alguma altura, dependendo do quão alto, você pode matar inimigos menores e atordoar alguns maiores. Usei bastante essa tática nas arenas do jogo.

Por fim, o escudo, além de defender, também serve para atacar. Ao jogá-lo em inimigos menores, eles são fatiados como pão. Nos maiores, o escudo penetra suas entranhas e os imobiliza, mas você fica vulnerável até chamá-lo de volta.

Uma coisa boa: chega de pulos estilo Mario em DOOM Eternal!

Nesse meio tempo, joguei principalmente com a escopeta e a espingarda de cano duplo, pois as demais armas serviam mais como enfeite.

E falando em armas

Bom, aqui vai mais uma reclamação mesmo. As armas novas são bem bacanas e interessantes, mas ficam só na aparência. Uma das armas usa CAVEIRAS trituradas como munição, o que é muito foda, mas é uma arma bem inútil no contexto geral — assim como as armas de plasma, as de flecha e até mesmo o lança-granadas e o lança-foguetes quando você faz upgrade para a escopeta e a espingarda de cano duplo.

Enquanto você pode atirar a rodo com qualquer uma dessas armas, a espingarda de cano duplo destrói boa parte dos inimigos mais difíceis. Alguns deles com apenas um tiro, e os maiores com até quatro tiros. Então, é só usar o esquema de bloqueio dos ataques verdes, socar a escopeta na cara dos inimigos e tudo dá certo.

Cada arma pode ser aprimorada procurando barras de ouro e joias espalhadas pelas fases do jogo. São quatro níveis de upgrade para cada arma, que, no máximo, deixam um jogo já fácil AINDA MAIS FÁCIL.

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Aqui forçaram a barra em substituir a arma mais icônica da franquia.

Mas, para quem gosta de armas diferenciadas, DOOM: The Dark Ages oferece um bom arsenal para brincar — com exceção da substituta da BFG 9000. Um arco e flecha meia boca que tem um tiro “tão poderoso” quanto o da 9000, mas que, por não ser a BFG, deixa o jogo AINDA MENOS DOOM.

Ainda estou trabalhando para deixar todas as armas no nível máximo, mas a única coisa que você ganha no final é uma customização visual. Por isso, não tenho pressa para isso.

Viajar pelos mundos nunca foi tão bonito

Como nas demais engines idtech criadas pela idsoftware, temos um vislumbre fantástico da visão dos artistas da empresa para mundos idílicos, infernais e completamente cósmicos.

Cada mundo criado pelos artistas da id oferece uma qualidade ímpar do que eles tentaram imaginar, e não há nada de feio em nenhum ponto do jogo nesse quesito — assim como foi em DOOM 2016 e DOOM Eternal.

Nas fases que se passam no mundo humano, temos um céu azul na maior parte do tempo, com terrenos, carroças, palácios e casas em um cenário medieval misturado com tecnologia avançada.

Em outro momento, no inferno, a tecnologia e o visceral se encontram. Já nos mundos cósmicos, temos algo mais estranho e incomum acontecendo.

No inferno e na parte tecnológica do mundo humano, você se sente em casa, mas na parte medieval e cósmica, tudo o que passava na minha cabeça era QUAKE — e é aí que o jogo da idsoftware brotava o tempo todo na minha mente.

Os Contos do Doom Slayer e o Quake que nunca tivemos

Vou resumir a história do jogo para evitar spoiler excessivo.

Antes das invasões à Terra, o Doom Slayer lutava ao lado dos Sentinelas contra o Inferno, controlado pelos Maykrs. Ao perceber que estava sendo manipulado, ele quebra o controle e enfrenta o líder demoníaco Ahzrak, que busca o Coração de Argent. Após várias traições e batalhas, o Slayer é derrotado, ressuscita, derrota Ahzrak e liberta Thira, a verdadeira fonte do Coração. No final, os traidores são punidos, e o Slayer continua sua guerra contra o Inferno por conta própria.

Deixando isso de lado, como disse acima, com exceção do inferno e das partes tecnológicas, o resto do jogo respira QUAKE com resquícios de Heretic e Hexen.

Sabemos que, como dona da Activision, a Microsoft está livre para usar as marcas Heretic e Hexen, e que Quake é propriedade da idsoftware. Por outro lado, essas marcas não são tão conhecidas pelo público geral, e todo o trabalho da “trilogia” estava focado em DOOM.

Mas DOOM: The Dark Ages é o menos DOOM desta trilogia recente. Muitos elementos do jogo são mais característicos de QUAKE. Por exemplo, a mistura de tecnologia com medieval já é vista no primeiro mundo de Quake.

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Um dos cenários de Quake

Os elementos cósmicos usados em DOOM se encaixariam muito melhor em Quake, e a parte medieval funcionaria melhor em Heretic ou Hexen.

Talvez seja um preciosismo meu, mas DOOM é terror espacial tecnológico com o inferno enchendo o saco de tudo e todos. Implementar outros elementos numa saga já consagrada pode expandir o mundo, mas acaba descaracterizando o jogo.

Infelizmente, como Quake não está tão em evidência, tenho certeza que o pessoal da id preferiu inserir todos esses elementos em algo mais para DOOM.

E aqui está o maior problema: cadê o link entre DOOM 64 e a trilogia nova?

Fizeram um prequel no meio do caminho, deixando a história com uma boa parte da explicação faltando.

Eu quero ver a transformação do DOOMguy no DOOM Slayer — na verdade, quero jogar essa aventura, e não jogar com o DOOM Slayer no universo de Quake. Se querem tanto usar elementos cósmicos do jogo 3D da idsoftware, que nos deem o verdadeiro Quake II, então.

A falta de um som avassalador

Aqui, apesar de haver um certo cuidado na trilha sonora, nada se compara ao que pudemos ouvir em DOOM 2016 e DOOM Eternal. A trilha sonora, no geral, ficou aquém do esperado, e nenhuma delas se torna memorável em nenhum momento — principalmente porque Mick Gordon não está presente.

Doom: The Dark Ages é mais uma obra que roda suavemente, com alguns sons e músicas fantásticas, mas, como tudo no jogo, é a parte menos impressionante da trilogia. A trilha sonora, parte integral da experiência, é ótima e, ao mesmo tempo, uma grande decepção.

Enquanto há várias faixas cheias de adrenalina, com bateria pesada e riffs fortes de guitarra, assim como algumas melodias menos bombásticas e profundamente atmosféricas, a maioria das criações da Finishing Move está a poucos passos da grandeza, com muitas faixas soando muito semelhantes entre si.

A implementação também é um pouco inconsistente, já que muitas das melodias mais sutis frequentemente são abafadas pelos efeitos sonoros muito mais intensos. Pior ainda, você frequentemente se encontra em fases onde a música praticamente desaparece ou é substituída por um ambiente genérico e monótono.

Ahhh sim, tem o Dragão e um Robô gigante

Vou resumir assim: as terríveis seções em trilhos onde o Slayer pilota um mecha gigante ou monta um dragão cibernético. Socar os titãs do inferno que parecem bobos e perseguir inimigos com uma fera voadora que cospe fogo é legal por cerca de um minuto, mas essas partes são como aquelas seções obrigatórias de veículos em shooters antigos. Felizmente, são interlúdios raros, e não grandes partes da campanha.

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CONCLUSÃO

Se este for o capítulo final desta trilogia, posso dizer que não vai fechar com chave de ouro. Dos três DOOM desta geração, este, sem sombra de dúvidas, é o pior da série. Aparentemente feito para quem não sabe jogar FPS, DOOM: The Dark Ages não é nenhuma experiência visceral se comparado com seus antecessores, e a falta da BFG 9000 no jogo o torna ainda menos icônico.

E nem vou falar que o jogo parece mais Quake do que DOOM, pois sei o quão chato é ser repetitivo com algo que já foi dito.

A Comunidade Mega Drive recebeu uma chave para o review deste jogo.

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